- Gabriel Guimarães
Como começar a investir? | Coluna Gabriel Guimarães
Gabriel é formado em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Muitos dos brasileiros ainda acreditam no lendário paradigma sobre investimentos: “investir é algo apenas para ricos”.
Se analisarmos a afirmação de maneira genérica, entenderemos que se trata de uma perspectiva do monte financeiro, do patrimônio, do dinheiro em si. De fato, há uma relação histórica - até porque os produtos financeiros não eram tão acessíveis financeiramente como são hoje... E ainda, se considerarmos um país como o Brasil, em que as pessoas que possuem acesso à educação de qualidade, a frase mencionada também pode ser relacionada, não é? Até porque, historicamente em nosso país, a maioria das pessoas que acessaram educação de qualidade desde cedo são bens sucedidas em suas carreiras e tiveram a oportunidade e privilégio de começarem a investir (não necessariamente em produtos financeiros). Temos então uma relação dupla: educação e patrimônio. Destaco mais uma vez sobre o privilégio (e sempre baterei nessa tecla, pois não devemos apenas olhar para a nossa bolha e achar que tudo é possível para todo mundo) de investir e de ter acesso à educação que sabemos que são para poucos brasileiros.
O conhecimento é o maior investimento do ser humano. É o único “bem” (logicamente intangível) que não se desvaloriza e valoriza cada vez mais quando a pessoa se aprofunda sobre a temática envolvida. O conhecimento é um ativo valioso que devemos, antes de qualquer outro, investir e aportar cada vez mais e de diferentes maneiras.
Acredito que essas pontuações anteriores foram primordiais para tentar responder à pergunta que tanto recebo: “como começar a investir?”
Pensou que eu fosse logo falar de alguma recomendação ou de algo apenas prático, não é? Infelizmente também estamos nos acostumando a sermos “práticos” atualmente. Queremos as respostas prontas, sem mesmo entender o processo. Queremos as frutas logo assim que plantamos as sementes. Queremos a comida pronta, sem mesmo saber como se faz um arroz ou um feijão. Investir não é diferente. Deve-se buscar conhecimento contínuo, seja de maneira branda, média ou intensiva.
Investir é um hábito. Sim. É um hábito como qualquer outro que temos diariamente e fazemos tanto que já fazem parte da nossa rotina, naturalmente. O livro O poder do hábito nos ajuda a entender como podemos transformar alguns dos nossos desejos e necessidades em hábitos, destacando e provando que tudo começa com algumas decisões que devemos tomar. Escolhemos pagar tantas coisas que muitas das vezes nem retorno nos dá, é mentira? Quantas coisas você paga por mês que te dão retorno? Seja retorno em um estado emocional, físico ou até monetário. Tirando esses que mencionei, quantos dos seus gastos te retornam algo verdadeiramente?
Considerando investimento um hábito, devemos sim incluir na nossa rotina, nas nossas obrigações. E como destaquei no início da coluna, seja um hábito financeiro ou um hábito informacional. Devemos começar HOJE. Será que você pode pagar o seu retorno? Pagar o seu EU-Futuro? Já pensou nessa pergunta? Não só pode, como deve. Devemos pagar um investimento para nós que não seja só a cerveja do fim de semana (que eu considero um retorno emocional e físico de curto prazo). O que eu quero dizer é que, como um hábito, devemos ter nosso orçamento programado para isso mensalmente, de acordo com a nossa renda. Uma sugestão inicial é você dividir a sua renda. Como? A famosa regra dos 70/30. Você pode direcionar 70% para suas despesas como um todo (aluguel, contas e outras despesas essenciais, ou seja, despesas necessárias para você viver e trabalhar), e os outros 30% você pode direcionar para seus investimentos (aposentadoria privada, investimentos, educação, renda passiva e aperfeiçoamentos). É claro que isso pode ser moldável para diferentes realidades, como por exemplo:
55% para despesas essenciais como aluguel, contas e supermercado;
20% para objetivos de médio e longo prazo, como fazer uma viagem ou abrir um negócio;
10% para gastar com o que quiser, como lazer, vestuário e cultura;
10% para investimentos de longo prazo (especialmente a aposentadoria) e;
5% para despesas com educação como cursos e livros.
(Nathália Arcuri, Canal Me Poupe!)
Você vai adequar à sua realidade... Atenção para não perder o padrão essencial para conseguir manter o hábito. Esses dias eu escutei: “É impossível isso, Gabriel, as minhas despesas essenciais passam dos 70%”. Logo perguntei à pessoa: “Então você não acha que seu custo de vida está muito alto para sua realidade financeira?”. Eu sei, é bem delicado a particularidade e luta diária de cada um. Porém existe sim a possibilidade de apertar um pouco aqui, segurar um pouco lá e assim se dedicar mais para o seu EU-Futuro. Pois depois que você montar a roda e vê-la começando a girar, parece que há uma magia em que você fica muito mais empolgado para cada vez mais aumentar os aportes.
Há diversos conteúdos e cursos gratuitos na internet para ajudar a começar, como por exemplo: B3 – nossa bolsa, Fundação Bradesco e FGV. Além desses cursos gratuitos há também canais de influenciadores no Youtube como: Me Poupe!, O Primo Rico, Economirna e outros. Há também muitos livros e e-books disponíveis sobre pensamentos e hábitos (deixei alguns bem legais para iniciar no fim da coluna), até mesmo alguns ensinando como avaliar um bom ativo e ajudando a identificar o seu perfil de investidor. Não se esqueça que eu trarei esses temas e outros muito em breve de maneira mais detalhada. A ideia de cada coluna é ter um progresso de educação e informação para auxiliar o leitor.
Como eu começaria hoje tendo uma oportunidade? Caso você possa, poupe momentaneamente seu dinheiro em um rendimento interessante como um CDB que pague 100% do CDI ou +100% do CDI (lembrando que esses produtos possuem o Fundo Garantidor de Crédito de até 250 mil reais). Exemplo disso é o PicPay que paga 150% do CDI com liquidez diária. Deixe esse dinheiro lá rendendo enquanto você desenvolve mais conhecimento sobre educação financeira e mercado de capitais.
Já para você que possui um pouco mais de conhecimento e quer sentir a sensação de estar no mercado, abra uma conta em uma corretora de valores e comece a entender o processo de compra e venda de ações e/ou fundos imobiliários. “Tenho um capital, mas não tenho um tempo ainda para olhar o mercado” então procure fundos de investimentos nessas corretoras ou até mesmo no seu banco. Escolha um fundo não apenas pela rentabilidade passada pois algo no mercado é muito certo: “Rentabilidade passada não garante rentabilidade futura!”. Busque algo em que as características e propósito do fundo e do gestor estejam de acordo com o que você estima sobre o mercado. “Quero começar a ganhar rendimentos mensais” então comece a escolher boas ações e fundos imobiliários que possuem gestão e empresas sólidas no mercado, analise os indicadores considerados importantes pelos investidores antes de aportar seu capital. Entenda a distribuição geográfica do FIIs, o seguimento, seus inquilinos, sua dívida, seus lucros, seu preço por cota, seu retorno por cota e assim também para ações. De todo o modo, sempre busque conhecimento para as novidades do mercado. É um hábito constante.
Concluo afirmando mais uma vez: Comece hoje! Pague o custo dessa aprendizagem. Conhecimento é um dos investimentos que ninguém tira de você. Lembrando que devemos sempre consultar profissionais certificados pelas instituições competentes e regulamentados pelos órgãos fiscalizadores. No mais, te aguardo no nosso próximo encontro.
Abaixo uma relação de livros que indico a vocês:
Livros:
As opiniões contidas nos textos dos colunistas não refletem necessariamente a opinião da Gazeta Conectada.